Há muitos e muitos anos atrás ,quando eu era apenas um jovem guri.Havia um porteiro onde eu morava, o Seu Zé.Ele era aquele típico Porteiro-personagem.Ele era capaz de responder "Boa noite" quinze vezes se alguém lhe desse "Boa noite" quinze vezes.As vezes não era preciso nem dizer "boa noite" ,bastava dizer qualquer coisa que ele respondia.Um amigo e vizinho meu tinha a mania cruel de intercalar cumprimentos como: "Vai a m... Seu Zé" ,"Vai tomar no... Seu Zé".Sim ,muita maldade,mas ele sempre respondia "boa noite".Era algo automático ,ainda ajudado por uma audição já precária ,do sonolento vigia.Mas era um problema de mão dupla ,quando ele queria nos contar algo ,era uma dificuldade entendê-lo.
Ele teve lá algumas histórias prá contar,como da vez em que ouvindo o seu radinho de pilha,sentado na frente do prédio e sim,naquela época não havia grades e nem portão,ele dormiu e teve o seu radinho gentilmente levado.Digo gentilmente,porque o ladrão nem acordou o Seu Zé,aliás,missão difícil era acordá-lo.O gatuno,apenas tirou o rádio da mão do onírico Seu Zé e o levou.Confesso que rolaram suspeitas sobre algum dos moradores ter feito isso,não por precisar ou querer o rádio,mas por talvez não conseguir dormir com o rádio do Seu Zé ligado madrugada a dentro,em volume alto,com algum sermão sobre inferno e salvação.
Eis que agora,lembro do Radinho do Seu Zé de forma nostálgica,ele era inofensivo.A evolução da tecnologia nos trouxe a melhoria nos rádios,nos auto falantes,nos fones.Mas como somos o eterno homem que vivia nas cavernas,nos defrontamos hoje,na rua,no ônibus,em qualquer lugar com irritantes celulares tocando coisas irritantes,nas mãos de guris mal educados.Celulares com falantes mais ranhetas que os do rádio do zelador da minha infância.Nos levando a um inferno auditivo,sem salvação.A não ser que alguém reviva o citado gatuno e ele leve esses aparelhos para algum lugar bem perto da China,bem longe d'aqui.Ou então que essa gurizada descubra uma inovação tecnológica não tão recente assim,o Headphone.
E esse é o outro lado da moeda,a maravilhosa vida sob fones.Esse primor da vida moderna,Convivo com eles desde a época do Walkman,daqueles que gastavam trocentas pilhas em meia hora,mas que as pilhas ainda serviam prá ouvir o rádio,fitas K-7,não mais ,só em rotação fantasmagórica.
A vida maravilhosa sob os fones,nos leva a mundos maravilhosos,nos tornamos misantropos por instantes mágicos.É o milagre da ausência de conversas tolas em seus ouvidos.Caminhar nas ruas,ouvindo aquilo que você quer ouvir.Aumentando a percepção do seu olhar sobre os outros,sim você passa a interpretar,a ler melhor as pessoas pelo olhar delas nas ruas,ou então você abstrai tudo a sua volta.Você abastece a trilha sonora do seu dia,não há coisa melhor.Podem nessa hora me acusar de estar fazendo uma apologia a alienação.Mas pelo menos é uma escapada necessária desse mundo, sob a voz do Jeff Buckley,do Thom Yorke.Aliás,posso especular sobre o que ouviria Thom Yorke em seus fones,já que o Buckley já foi dessa prá alguma outra ,melhor ou não.O que será que ouve o cara que eu ouço?
Mas devo confessar que certa vez,no ônibus,eu ainda não havia posto os fones.E uma senhora ,sentada atrás de mim,com uma voz daquela,insuportavelmente médio-aguda,falava com uma amiga e com um rapaz ,que estava no banco ao lado dela e que parecia ter lhe vendido um desses produtos de beleza de catálogo,sobre as desventuras que ela teve com o produto.Pelo o que eu entendi,ela comprou um creme para o cabelo e a amiga um hidratante prá pele.Ela falava num volume alto e na hora fiquei um pouco irritado,mas por algum motivo,achei que seria ofensivo eu ali na frente dela pôr os fones.Ela continuava a história que se resumia a uma troca dos produtos entre ela e a amiga,uma troca acidental.A amiga que era a que estava a seu lado no ônibus,ao chegar em casa,percebeu a troca,já a ensurdecedora senhora...não e passou o hidratante de pele em seu cabelo.Ao fim da história ela mais exaltada ainda, falava com ele:
_Agora veja você!!!Estou com o meu cabelo ensebado há 3 dias!!!!!Todo ensebado!!!Tá um nojo!!!Uma melecada só!!!!
Não precisa dizer que todos no ônibus se viraram prá olhar o cabelo dela,inclusive eu.
Isso,Sr. Yorke,tape os seus ouvidos ou compre Headphones!!!
domingo, 7 de dezembro de 2008
sábado, 23 de agosto de 2008
A ascensão e queda de Ziggy Stardust na Lata de Sardinha
Atenção,essa é uma postagem-repulsiva,se tiverem coração fraco,não leiam...
As vezes nos traímos,ou pelo menos traímos o que dissemos outrora.Falo isso por conta do fato que eu tinha um certo asco pelo David Bowie.E hoje me encontro em deleites auditivos ao ouvir Ziggy Stardust,Space Oddity,Absolute begginers...
Isso,para os jovens adolescentes que frequentam esse blog,pode servir como consolo.Sim,aquela guria da sua turma do colégio,que sente um verdadeiro asco por ti,mas que você é apaixonado,pode na verdade também estar apaixonada por ti,o problema é que pode demorar uns dez anos para que ela descubra isso.E olha,demorei mais do que isso prá gostar de ouvir as músicas do Bowie.Mas a minha intenção aqui,não é ser romântico,Romantismo é para os fracos,as telenovelas,os programas de calouros e os fracos por telenovelas e programas de calouros.
Aliás,se há algo asqueroso,é programa de calouros,todos competindo feito cavalos e se esgoelando como maritacas em vibratos eternos.Fazendo caretas de macaco Mandril e em algumas vezes coreografando um charme similar ao de um Ornitorrinco num ritual de acasalamento.Sinceramente,não sei se ornitorrincos têm algum ritual de acasalamento,mas de qualquer forma é bom não arriscar estar presente em um.
Mas isso tudo me deixa temeroso,pois tenho asco por sardinhas em lata.Imagino que seguindo essa regra,em alguns anos estarei fazendo banquetes regados a latas de sardinha.Mas no momento isso me causa torções no estômago e no fígado.Sim meu caro adolescente,o mesmo que a guria da tua turma sente hoje,quando imagina estar lhe beijando.Nesse momento você é uma lata de sardinha e não o Ziggy Stardust.Porém não se preocupe,ela não lhe dirá isso,pode até demonstrar,mas não dirá,afinal,ela é sua amiga.Mas eu,que não valho nada,lhe digo...você está empapado em óleo,nesse momento e se contente com isso.
Sim meu caro,a vida é cruel,mas muito mais cruel para as sardinhas que tiveram o seu destino depositado em viver e terminar seus últimos dias apertadas,dentro de uma lata gordurosa em companhia de outras sardinhas,que talvez em vida ela tivesse asco e quisesse longe.Então pára de reclamar e choramingar e procure outra guria.
A Ironia mesmo,é quando alguém parece gostar de você,cria laços e eis que de repente começa a te repelir,te olha de maneira enviesada.Dá claros e obscuros sinais que te quer a distância.Você pode até mesmo atribuir isso a algum fator Inconsciente-Repulsor-Edipiano.Pode dar o nome bonito que você quiser,mas já era,é fato.É o seu momento,aquele em que você é o objeto de repulsa,você agora é o asqueroso.É o movimento de Ascensão e queda do Ziggy Stardust(Rise and fall of Ziggy Stardust...).Esperto é o David Bowie...e eu demorei tanto a ver isso.Sim,repulsa e asco causam cegueira.
Alguma de vocês aí quer um beijinho?
As vezes nos traímos,ou pelo menos traímos o que dissemos outrora.Falo isso por conta do fato que eu tinha um certo asco pelo David Bowie.E hoje me encontro em deleites auditivos ao ouvir Ziggy Stardust,Space Oddity,Absolute begginers...
Isso,para os jovens adolescentes que frequentam esse blog,pode servir como consolo.Sim,aquela guria da sua turma do colégio,que sente um verdadeiro asco por ti,mas que você é apaixonado,pode na verdade também estar apaixonada por ti,o problema é que pode demorar uns dez anos para que ela descubra isso.E olha,demorei mais do que isso prá gostar de ouvir as músicas do Bowie.Mas a minha intenção aqui,não é ser romântico,Romantismo é para os fracos,as telenovelas,os programas de calouros e os fracos por telenovelas e programas de calouros.
Aliás,se há algo asqueroso,é programa de calouros,todos competindo feito cavalos e se esgoelando como maritacas em vibratos eternos.Fazendo caretas de macaco Mandril e em algumas vezes coreografando um charme similar ao de um Ornitorrinco num ritual de acasalamento.Sinceramente,não sei se ornitorrincos têm algum ritual de acasalamento,mas de qualquer forma é bom não arriscar estar presente em um.
Mas isso tudo me deixa temeroso,pois tenho asco por sardinhas em lata.Imagino que seguindo essa regra,em alguns anos estarei fazendo banquetes regados a latas de sardinha.Mas no momento isso me causa torções no estômago e no fígado.Sim meu caro adolescente,o mesmo que a guria da tua turma sente hoje,quando imagina estar lhe beijando.Nesse momento você é uma lata de sardinha e não o Ziggy Stardust.Porém não se preocupe,ela não lhe dirá isso,pode até demonstrar,mas não dirá,afinal,ela é sua amiga.Mas eu,que não valho nada,lhe digo...você está empapado em óleo,nesse momento e se contente com isso.
Sim meu caro,a vida é cruel,mas muito mais cruel para as sardinhas que tiveram o seu destino depositado em viver e terminar seus últimos dias apertadas,dentro de uma lata gordurosa em companhia de outras sardinhas,que talvez em vida ela tivesse asco e quisesse longe.Então pára de reclamar e choramingar e procure outra guria.
A Ironia mesmo,é quando alguém parece gostar de você,cria laços e eis que de repente começa a te repelir,te olha de maneira enviesada.Dá claros e obscuros sinais que te quer a distância.Você pode até mesmo atribuir isso a algum fator Inconsciente-Repulsor-Edipiano.Pode dar o nome bonito que você quiser,mas já era,é fato.É o seu momento,aquele em que você é o objeto de repulsa,você agora é o asqueroso.É o movimento de Ascensão e queda do Ziggy Stardust(Rise and fall of Ziggy Stardust...).Esperto é o David Bowie...e eu demorei tanto a ver isso.Sim,repulsa e asco causam cegueira.
Alguma de vocês aí quer um beijinho?
domingo, 27 de janeiro de 2008
2 Minutos(2 Segundos) para o Começo
Passei da porta,era um pequeno corredor,com uma porta a direita,uma a esquerda e uma imensa porta a minha frente.Fiquei ali tentando advinhar prá onde eu tinha que ir.De repente ouvi uma voz e avistei uma pessoa me falando prá entrar no vestiário,era a minha direita.Entrei,me ajudaram a pôr roupas sobre as minhas roupas,sapatos sobre os meus sapatos.Nisso um Senhor simpático entra pela outra porta do vestiário,a que eu tinha que sair,eu ainda atrapalhado com aquele vestuário incomum,ele sorrindo me diz:
"Sleep, sleep tonight.And may your dreams be realised..."
_É a primeira vez?
_Sim,respondi rasgando mais um daqueles "sapatos".
_Hummm...Fique tranquilo.Ele respondeu já se livrando do "sapato" dele e o jogando num latão de lixo.
_Dura quanto tempo?Perguntei rasgando mais um "sapato".
_2 Minutos.Respondeu ele já saindo pela porta por onde eu havia entrado.
Depois de mais alguém me ajudar,saí,me deparei com um corredor escuro,algumas portas enormes,luz vindo das janelas que tinham nelas.Fiquei completamente perdido,veio uma moça,me disse prá segui-la.Ainda encontrei uma amiga que disse que iria comigo e me levou até uma enorme sala.
Lá,aquele que mais parecia o diretor de um filme e assim na verdade o era.Me pediu prá sentar numa cadeira que estava num dos extremos da sala,não encostada na parede,mas perto do centro da sala.Sentei-me,percebi que entre conversas e risos,eles iam marcando as sua "cenas".
Como num filme,um parecia o Contra-Regra,preparando tudo,outro pedia mais luz.E assim seguia tudo como no filme A Noite Americana,do Truffaut.Eu ali,impávido,assistindo a tudo,mas de certa forma impaciente.De certa maneira,na verdade,eu nem sabia exatamente o que estava,ou como estava me sentindo.Minha amiga me falou:
_Quer fotografar?
_Não sei.Respondi
_Quer que eu fotografe?
_Pode ser...Quanto tempo dura?
_2 Segundos.Ela respondeu.
E aí ocorreu o mais curioso.Sempre imaginei que quando esse momento chegasse,tocaria alguma música na minha cabeça.Alguma daquelas que a gente considera especial,talvez alguma do Radiohead como No Suprises ou The one i love do David Gray.Eu teria uma lista razoável de músicas prá tocar naquele momento,mas nada,nenhuma nota,nenhum som,na minha cabeça só o silêncio...A trilha sonora do meu dia a dia,parou naquele momento,prá logo em seguida dar espaço apenas a um som.O choro.
Exatamente dessa forma,um choro,um protagonista,envolto na luz daquela sala,misturada a película que havia em sua pele,parecia o Surfista Prateado,voando,chegando do Espaço.Antes a cena solitária da protagonista,agora ela tinha a companhia dele.Assim diriam que é um filme perfeito.Agora eu diria que não há contorno e nem forma prá que eu possa descrever o que eu de forma privilegiada, presenciava.Assistia um começo.Um único começo.
Em seguida,o levam dali e me chamam,me levanto,a minha amiga me olha preocupada e me pergunta:
_Você está bem?
_Sim...
_Tá sentindo alguma coisa?Diante da minha demora em responder,repetiu a pergunta.
_Sim,tô bem,tô sentindo é muita emoção.Respondi,na verdade,sem saber dar nome ao que estava sentindo.
Eu sabia que estava pagando o preço pela fama dos homens serem frouxos nesses momentos,mas não senti minhas pernas bambas,não senti vertigem,nada ficou escuro em minha volta.Na verdade,tendo que deixar a cena que ainda prosseguiria por mais de 2 minutos,mais de 2 segundos prá minha adorável protagonista.Tudo estava bem claro prá mim naquele momento,eu seguia o protagonista,porque deveria ampará-lo.Não demorou muito e voltamos a cena,eu e ele,prá nos juntar a bela que ali ainda estava.Seu sorriso meio anestesiado,ao nos ver,dizia tudo o que eu não conseguia dizer.Não houve cena final,aquela...era a primeira.
"Sleep, sleep tonight.And may your dreams be realised..."
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